Antes da pandemia, em um tempo que agora já parece distante, o Sarandirando, projeto de extensão do curso de Psicologia do UniAcademia, tinha a proposta de recuperar a memória histórica de Sarandira, distrito rural de Juiz de Fora. O grupo, formado pelo professor Conrado Pável de Oliveira e estudantes de Psicologia, desde 2019 vinha realizando rodas de conversa, dinâmicas e jogos presencialmente. Mas com a covid-19, o projeto precisou se adaptar.
A solução encontrada pelo grupo para dar continuidade ao trabalho de forma remota e manter contato com a população de cerca de 250 habitantes, que muitas vezes se vê esquecida pelo Poder Público - por lá, o acesso à internet é limitado e o transporte público limita-se a três horários de ônibus por dia - é uma velha conhecida: a correspondência por cartas.
De acordo com o professor Conrado Pável, responsável pelo projeto, o desafio de construir práticas de psicologia comunitária, em isolamento, levou em conta o perfil da população, principalmente na dificuldade de acesso à internet e por se tratarem, em sua maioria, de pessoas idosas. “A troca de cartas está sendo bastante interessante, já que nosso trabalho é relacionado à recuperação da memória social da comunidade. A gente entende isso como um registro histórico importantíssimo desse momento, do impacto da pandemia no cotidiano miúdo dessas pessoas”, afirma.
Através de uma agente de saúde que mora em Juiz de Fora e trabalha no posto de saúde de Sarandira, as cartas chegam aos seus destinos. Na correspondência, o grupo pergunta aos moradores como estão, especialmente neste período atípico de pandemia, e registram algumas memórias das atividades em Sarandira, da época em que as atividades aconteciam presencialmente. “Particularmente, eu estou muito satisfeita em participar dessa ação, principalmente porque eu cultivava um certo sentimento de impotência com a chegada da pandemia e a necessidade de distanciamento social”, conta Andressa Sott, que no último semestre de 2020, finalizou o curso de Psicologia com o trabalho de conclusão relacionado ao Sarandirando.
“Ao resgatar as lembranças históricas de Sarandira e do povo que lá reside, pudemos criar laços com a comunidade e a partir disso, criar também ambientes de escuta”, completa a aluna Thamara Dias.
Mural colaborativo reúne memórias afetivas de Sarandira
Para além da troca de cartas, o Sarandirando, em parceria com o projeto Na Nuvem, do edital de incentivo à cultura da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), criou o Mural de Memórias Afetivas de Sarandira, com intuito de resgatar memórias afetivas e valorizar a cultura e saber local, tornando a experiência em Sarandira partilhada e perpassada em gerações. No mural virtual e colaborativo, é possível adicionar fotos, vídeos, textos e áudios sobre lembranças afetivas que as pessoas tenham de Sarandira.
Para adicionar conteúdos no mural ou conferir as memórias já disponíveis, clique aqui.
O projeto Sarandirando articula extensão, pesquisa e ensino, a partir da relação com estágio e disciplina de Psicologia e Práticas Comunitárias, e conta também com o apoio da Associação Carabina Cultural. Participam do projeto os estudantes Andressa Sott, Felipe Piobelo, Geovana Dadalti, Júlia Freitas, Marcela Faria, Marina Pereira, Oetsia Smits, Paula Mauad, Sarah Santos, Taynara Batista e Thamara Dias.
Além do curso de Psicologia, o curso de Arquitetura e Urbanismo do UniAcademia, através da professora Milena Andreola, também está envolvido no projeto, com o objetivo de compreender a paisagem urbana e cultural, hábitos cotidianos e a influência da sua história nas relações de pertencimento e autovalorização de Sarandira. Porém, por conta da pandemia, as atividades presenciais estão suspensas.
